Frases e coisas do Brasil...

sábado, 11 de maio de 2019

Centésimo Quadragésimo sétimo dia...

                                "Os Sertanejos" - 5ª e última Parte

               O matuto cearense tem assim momentos de autarcia elevando os olhos ao firmamento, cujo olhar repousa irrequieta nictante visualizando com ziguezaguear dos raios que desciam rasgando o céu azul estrelado de purpurino cintilante. Assim a natureza em festa de uma noite cujas "serranas" mais típicas "camponesas" fazem orações, acendem velas em redor das fogueiras armadas servem para assar batata doce, carne salgadas sapecadas nas fornalhas Braseiros, davam-se início dos cumprimentos para após três rodeios na imensa fogueira, convencionava o padrinho compadresco entre afilhados e pais, cujo ambiente cheirava a mato verde, perfumado com mangerioba, vinagreira, carrapateira, flores rasteiras de "nove-horas" vermelhas e brancas, verbenas deixando o odor características das plantas, e flores que nas noites serenas abriam perfumadas "estrelas"odorizavam espargindo o cercado de cerca de tapete perfumado, cujo odor tinha a suavidade de uma essência embriagadora misturando-se no solo da terra úmida banhado pelo cheiro de mato.
         A luz mal clareava o vulto das pessoas de braços dados subiam e desciam às ruas, locais penumbrados faziam juras de amor.
       Quem ao longe alcançasse aquele panorama sentia a atração provocadora ambiência e, insuflados trocavam carícias e beijos.
        O amor de repente se achegava se aninhando aos ombros dos jovens pares com eterno amor, não importava o que ao redor se desenrolava.
       E naquela tarde plúmbea e melancólica os pássaros voavam em busca dos ninhos, situados nas mais altas galhas aconchegando-se uns aos outros entre as asas preparadas para vôo, por ser na colina, difícil dizimar na amplidão orvalhada com gotinha, deixavam  a folha para se sustentar no cálice da flor virgem desabrochando despida receber os raios solares banhando pétalas, pistilos fortalecendo o androceu.      
           O perfume que se expande no ar, enebriando o cume da igreja suavizava, pirililampos voando com a fosforescência ziguezagueiam no escuro da noite com luminosidade quase invisível dão ao luar prateado a silhueta dos casais que trocam carícias, com evolução que vem dos corações suavizando todos os perfis com aroma embalando o mais fino odor entre casais.
          Não foi sem razão que Euclides da Cunha, na sua obra magistral "Os Sertões" disse "O Cearense é acima de tudo um forte".                                                                                                                                  Hercule Quasímodo, por exemplo, o oximoro construído na junção de dois personagem da cultura ocidental diametralmente opostos tenta conciliar literariamente as contradições de caráter científico da obra. 
        Hércules, o semideus da mitologia grega, filho de Zeus, forte e belo, corajoso e sedutor, imprime respeito e admiração. Quasímodo, o monstruoso personagem do romance Notre Dame de Paris(traduzido para o português como Corcunda de Notre Dame)de Victor Hugo, feio e disforme, digno de comiseração, alvo de pilhérias, os dois juntos não sintetizam um personagem, mas criam esta ilusão. Assim, depois de descrever o sertanejo como "desgracioso, desengonçado, torto", o autor aponta sua transfiguração diante de algum acontecimento que possa desencadear sua energia;"...da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado...".
           Assim a vida, a terra e o mar...
       Quem na terra teve a feliz ventura de ver e sentir tudo isso, diz:Deus existe e é o nosso Pai Soberano.

                                         Zenilo Almada-advogado(autor).



         A presente "obra" publicada nestes 5 dias, foi editada e pedida na época de edição de seu livro "Fortaleza Inesquecível", com dedicatória e autografado, em 2013. Na ocasião Dr. Zenilo, entregou o texto para ser publicado nesse blog. 
     Dr. Zenilo Almada, nasceu em 27 de março de 1935, e a 10 dias de completar 79 anos, veio a óbito. Numa segunda-feira dia 17, de março de 2014. Hoje existe um logradouro em sua homenagem póstuma, Rua Zenilo Almada que fica atrás do Shopping Riomar Kennedy, fazendo divisória com os Condomínios Boulevard:Parque dos Ipês, Palmeiras, Acácias e Jardim das Bromélias.         

terça-feira, 7 de maio de 2019

Centésimo quadragésimo sexto dia...

                                "Os Sertanejos" - 4ªParte

         O matuto que nunca vira aquelas paisagens, cada vez mais se abismava diante daquela amplidão  de céu e mar, com apoteoso deslumbre, o azul e verde imposta pela natureza.
       O sertanejo meditava naquele mundo fantástico, como se descobria onírico lugar que lhe fora reservado pela natureza. Era um paraíso na terra, ver comensurar com os olhos tanta beleza que rodeava aquele mapa de surpreendente visão que vinha do céu.  
              O torrão brabo ardia nos pés, nas orelhas, em todo corpo, aquiescendo o sangue do cearense homem forte, cuja fortaleza pulsava nas veias, os músculos impulsionavam toda hercúlea física, como um touro manso se limitando com as enormes orelhas cabanas fazia lentamente movimento de oscilação e translação, para suavizar o escaldante colar que soprava naquela várzea inóspita esperando o cair da tarde propiciar benfazejos movimentos de quietude e escurecer, com mais uma noite no céu estrelado iniciando o faiscar das pequeninas estrelas envolvendo a abóbada celestial ocupando espaço de um azul púrpuro. A praia se banha de uma espuma que desfaz rolando sobre a terra até se infiltrar no solo que acabara de se esquentar do calor de um dia causticado por mormo sopro da aragem que vinha do mar.
       Os sertanejos quase enfileirados desciam rampa quase íngreme em direção do mar, para apreciar abismadamente aquele "açude do Sr. Boris" (como era conhecido pelos retirantes, que matava o desejo de ver perto aquele "marzão").
            Ademais, o sertanejo cearense, já nasce com o corpo e alma preparados para suportar intempéries da vida, porque calejado pelas vicissitudes enfrenta com galhardia e destemor por está na sua sina predestinada para cumprir na terra com intrepidez e coragem.
          O caboclo cearense traz a bravura no sangue, na pele que envolve a força que Deus Dar. Por isso sua ficção é pura límpida de transparência de uma brilhante lantejoula.
        Raquel de Queiroz no seu romance "O quinze" destaca seu lenitivo da lantejoula que brilha  enriquece a torre do campanário dando maior beleza arquitetônica ao ambiente inesquecivelmente.
       É o nosso Ceará revestido pelo cinza plúmbeo e no céu cravejado de estrelas cintilantes faíscas na abóbada, desenhando cruzeiro do sul, ursa maior, ursa menor e fixam a atenção dos contempladores de espetáculo magnanimamente embelezam nossa natureza em toda a sua perfeição.
    A terra retalhada em pequenas porções como se recorta na tábua incrustada para se ajustar orifícios naquela dimensão.
     Assim o Firmamento se manifesta com imenso manto azul turquesino como no grande abraço, absorvendo em si a luz das estrelas.
(continua no próximo dia a 5ª e última Parte) 

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Centésimo Quadragésimo quinto dia...

                                "Os Sertanejos" - 3ªparte

              Nas décadas de 40/50 o Arraial Moura Brasil, especialmente a descida da Rua General Sampai, Gasômetro, e , Bar São Jorge, representavam a escore do "habitat" do baixo meretrício por ser conhecido como "curral" das éguas, onde a prostituição imperava na "escala social" das mulheres mundanas, de mais baixo nível, comentada nas páginas noticiosas dos jornais da Cidade, por ser o "bas fond" ilhado de promiscuidade naquele ambiente.
                   Conhecida como zona perigosa e temida, se confundia com a medida do perigo de vida com o da morte. Quem por ali caminhava sabia que ao lado da descida do curral, havia um dos mais famosos "Chateaux" da redondeza - o camuflado "Oitão Preto", ao lado da Pensão da Olímpia, há meia quadra da Cadeia Pública ou Casa de Detenção, cuja frequência de cidadãos de meia idade faziam seus idílio vesperais.  
           Na Pensão da Olímpia era pousada das selecionadas mulheres por madames que as mandavam buscar, cobrando os mais caros michês, cujo proxeneta Paulet se encarregava de facilitar com o cambio entre Estados.
                    Só os mais endinheirados podiam frequentar a Pensão da Olímpia e bancar uma noite de aventura ao lado de uma borboleta noturna se estivesse disposto em troca do amor momentâneo da mariposa mais coquete e dissoluta daquele ambiente de efêmero amor.
                     Por serem ambientes de certo recado, era frequentado por cidadãos de alto coturno, cuja posição social não permitia transpirar as escapadelas junto as suas famílias para entregar-se ao clandestino amor aventurado.
                  Sigilosamente o camuflado Oitão Preto e Pensão da Olímpia serviam para dar azo às libações motivadas de desejos concupiscentes.
                Assim, o horário reservado para esses encontros, era geralmente no espaço de expedientes matinal ou vesperal segregado o resguardo entre parceiros.
            Em todo ambiente onde impera a prostituição, crimes de lenocínio contra os costumes caracterizados, sobretudo pelo fato de se prestar proveito, cujas modalidades são o proxenetismo, o rufianismo e o tráfico de mulheres, alcovitice ou alcoviteirice convive-se com a escoria social da nossa Cidade. 
              Era o Curral das Éguas no bairro Moura Brasil, Praia Formosa onde mais se aglomerou seres humanos exercitando a devassidão e promiscuidade nos anos 30/70 época aproximada que o mar invadiu solapando as ruas, vilas, transformando em mar aberto toda a área da praia Formosa, expurgando com rapidez todos habitantes.
        A praia do Pirambu surgiu por consequência do prolongamento do bairro de Jacarecanga, cuja população abrangeu a Vila Operária,Brasil Oiticica,numa reta pela Avenida Francisco Sá, até chegar nas oficinas do Urubu, Floresta, Barra do Ceará, Barro Vermelho, confinando com parte da Rede Viação Cearense, no qual alojados grande número de funcionários daquela repartição pública ferroviária.
                   Com a expansão do bairro Brasil Oiticica, surgiram outros bairros que se aglomerado aos já existentes as quais passaram a formar um grande reduto habitacional, em franco progresso familiar.
                 Era verdadeira aventura dos interioranos, deslocando-se da terra natal para enfrentar a urbe antes nunc vista abismando-se muitas vezes da civilização aqui encontrada repetinamente, apreciando cenários inéditos num deslumbro de sucessivas paisagens na Capital.
                 E o sertanejo que vindo do sertão bravo cheio de desejo de conhecer nossa Capital do Ceará,tem no íntimo o "doce vazio" preenchendo a amplidão lugar que tanto almejara e, sentimento ainda inusitado para valer no peito o segredo d'alma como o almejo da volúpia dos fachos ou farol que outrora iluminava toda aquela região na mais infinita forma.
(continua a 4ªparte no próximo dia) 

domingo, 5 de maio de 2019

Centésimo quadragésimo quarto dia...

                                            "Os Sertanejos" - 2ª Parte

                    Distante da Capital, vinha-lhe pequena mesada para garantir o pagamento das principais necessidades de pensão, "república" partilhada com outros colegas estudantes sem direito a gasto extra ao orçamento, por que era sacrifício pela escassez de recursos paternos. 
                Os pais dividiam com os filhos estudantes na Capital, o fruto do trabalho de roçado com esperança de ver o filho "doutor". Mantido pela lavoura do feijão, arroz, algodão, milho e mamona, ou de venda das peles de animais silvestres, cuja cotação se elevava diante da raridade de espécimes, suportando as despesas do filho estudante na Cidade.   
             Oriundos do sertão bravo a esperança dos que vinham para capital estudar, trabalhar e trazer à família projetando no rol dos bens sucedidos, dando princípio à família dignas, ocupando altas posições sociais, cargos públicos de expressivos relevos fixando-se dentre altas categorias da nossa região sofrida com secas assoladoras ressecando o solo árido, sem vegetação do torrão nascedouro. Era essa a esperança cultivada em família e o desejo de melhores dias para engrandecer o núcleo e membros que compunham aquela gleba familiar.
            O solo enrugado e ressecado pela ardência solar, forma argila a esperar do céu, o precioso líquido florescendo repentinamente com a relva e babugem criado pelo orvalho no inverno alimentação do rebanho.
               Quando aqui chegavam, os "matutos" ansiosos queriam de imediato conhecer os lugares surpreendentes e fascinantes como libações, lupanares e outros. Eram folguedos por excelência o centro e demais atrações, sem se cansar de olhar abismadamente e fazer indagações ingênuas aos locais contemplando-os.
          As sertanejas jejunas daquele ambiente entravam ao samba com remelexos, fazendo rebolar da cintura aos pés, deixando os dançantes dos diversos salões do curral das éguas em estado de êxtase de um paraíso nunca visto nem tão pouco imaginado. Era por assim dizer deslumbramento proporcionado por "mulher do fado", que se fazia atrair por olhares concupiscentes ou de "cobra feiticeira", cujo veneno de ninja esguichava nos amendoados olhos castanhos, verdes ou azuis de uma "gata siamesa", cujo laço irresistível para atrair o capiau, como é conhecido matuto ou sertanejo em Belo Horizonte e Bahia; cujo sotaque do cearense sertanejo, chalaceava com impropriedades causando risos aos pares que esbaldavam no dancing Bola Preta e nos demais salões do Curral, como Azul, Tamanqueiros e Lamparinas.
(continua a 3ª Parte no próximo dia)

sábado, 4 de maio de 2019

Centésimo quadragésimo terceiro dia...

Nos últimos dias de abril de 1994, saí de São Luís do Maranhão, para exercer a minha representação em Fortaleza. Pois desde 3 de fevereiro de 1988, tinha resolvido morar em terras maranhenses. Razão puramente econômica, pois ausentava-me muito da família, para exercer meu trabalho em São Luís.
Em abril de 1994, retornei, hospedando-me em pousadas na praia de Iracema. E aos poucos recebi as fichas de clientes de Fortaleza. Dentre eles Zenilo Almada Rodrigues, pessoa muito carismática. Advogado, morador na Rua Tibúrcio Cavalcante, quase esquina da Av.Santos Dumont. Durante um bom tempo visitei Dr. Zenilo Almada Rodrigues. E ao passar do tempo, disse-lhe da existência deste blog; no que ele disse que publicasse um texto de sua autoria.
O que faço em sua homenagem já que faz 6 anos, e 5 de seu falecimento.
                                             
                                           "Os sertanejos" - 1ª Parte

            Os sertanejos assim chamados e conhecidos na sua maioria eram pessoas humildes que se deslocavam das cidades interioranas onde nasciam, vinham em busca da capital do seu Estado natal, para conseguir empregos, estudar e mudar de vida e vencer, mediante grandes esforços para sobrevivência. 
                   Quando possuíam pessoas amigas, família e parentes na Cidade, tudo se tornava mais fácil porque logo as referências dadas serviam como ponto de apoio e guarida aos jovens, cuja vontade de vencer objetivo principal,  mudando para Capital, deixando distante o sertão sem esquecer as origens, na tentativa de cursar faculdade, a depender das aptidões despertadas nos jovens. Para isso não mediam consequências, porque a glória era lema, desejo ardente de se formar e ser doutor, era induvidosamente aspiração maior adormecida. 
           
                  As noites na Casa do Estudante, ocupando dormitório sem conforto, alimentação precária que chegava muitas  às vezes duas refeições, sem muito satisfazer a um jovem que mal saíra d puberdade, e não atingira completamente a juventude, sem poder desfrutar a plenitude de estudante pobre de classe média quase sem amparo da família que deixara no sertão.
(continua no próximo dia a 2ªparte).